Portugal olha para o Syriza como o rabejador olha para o forcado da cara. Estamos com muita esperança no desgraçado que vai lá à frente e leva uma boa cornada do touro mas, com sorte, talvez consiga imobilizá-lo de modo a permitir que nós seguremos no lado do bicho que não aleija.
É possível que esta metáfora tauromáquica seja injusta e não faça sentido. Não percebo o suficiente de tourada mas, agora que penso nisso, ser rabejador envolve muito mais coragem do que a que reconheço a Portugal (e a mim). Há que agarrar na ponta do boi que escoiceia.
E, sem ajuda, fazer tudo para que os companheiros possam largar o toiro sem que o animal invista sobre eles.
Não, Portugal não é o rabejador. Portugal é o forcado que aparece no fim da faena, já depois de o bicho estar morto, para se servir de umas fatias de acém, e que, se o animal calha a ter um espasmo, ainda faz xixi nas calças.
Não sei como se chama esse forcado, mas somos nós.
Angela Merkel, nesta metáfora, é o bovino. Neste ponto, não é necessária muita imaginação.
Ao que nós chegámos. Uma coisa é esperar o aparecimento de um rei falecido há séculos, outra é contar com um heleno para nos conseguir melhores condições de vida. Que é feito das fantasias tradicionais portuguesas? Onde estão as ilusões nacionais de antanho? É certo que a probabilidade de Portugal beneficiar da acção de Alexis Tsipras acaba por ser maior do que a do regresso de D. Sebastião, mas quão fracos têm de ser os nossos mitos para que um grego de 40 anos os substitua tão facilmente?
Ao que nós chegámos. Uma coisa é esperar o aparecimento de um rei falecido há séculos, outra é contar com um heleno para nos conseguir melhores condições de vida. Que é feito das fantasias tradicionais portuguesas? Onde estão as ilusões nacionais de antanho? É certo que a probabilidade de Portugal beneficiar da acção de Alexis Tsipras acaba por ser maior do que a do regresso de D. Sebastião, mas quão fracos têm de ser os nossos mitos para que um grego de 40 anos os substitua tão facilmente?
Felizmente, podemos contar com o nosso primeiro-ministro.
Passos Coelho não espera nada de Tsipras.
Não faz sentido combater a austeridade, porque a austeridade é nossa amiga.
Dizer que a dívida é impagável é de uma desfaçatez impagável.
O desemprego, o aumento da dívida e o incumprimento das metas do défice são fruto da má vontade da realidade, que se recusa a colaborar com o caminho certo. Desejar outra coisa é inútil e perigoso. Poderia gerar desemprego, aumento da dívida e incumprimento das metas do défice. Deus nos livre.
De acordo com o primeiro-ministro, as ideias do Syriza são "um conto de crianças". É possível, não digo que não. Mas as ideias de Passos Coelho são, como sabemos, um filme para adultos. E o traseiro que o protagoniza, infelizmente, é o nosso.
RICARDO ARAÚJO PEREIRA
PUBLICADO ORIGINALMENTE NA VISÃOhttp://visao.sapo.pt/eh-toiro-lindo-olha-o-tsipras=f809249#ixzz3QtZsfADs
________________________________________________________________
poderá gostar também de:
Condecoras tu