Cada família Portuguesa infeliz, poderá ser infeliz à sua própria
maneira, mas o mesmo não se aplica a todos os países deste euro infeliz.
Todas as economias problemáticas da moeda comum, apostaram no
endividamento ao estrangeiro durante o boom económico, e tudo correu desastrosamente
mal, quando esse dinheiro parou de fluir durante a crise que se lhe seguiu.
Mas, nem todas as dívidas foram criadas de forma igual
A Grécia tem uma bolha de governo; Espanha e Irlanda têm
bolhas imobiliárias; Itália nem sequer teve uma bolha, apenas um crescimento
anémico e Portugal tem uma das catástrofes mais silenciosas (silenciada?) da
memória económica.
E não é totalmente claro o porquê disto.
Em 2001, Portugal parecia pronto para embarcar corajosa e
decididamente num novo futuro económico. O quarto de século anterior tinha-o
visto passar da ditadura para a democracia, de uma economia proteccionista para
uma economia de mercados - e os resultados foram positivamente surpreendentes.
Lisboa, na viragem do milénio, (aparentemente) seguia no bom
caminho. A cidade já não era uma mistura eclética de pós-revolucionários e
arquitectura pós-vitoriana.
Era já e apenas mais uma parte da Europa, uma parte mais
pobre, mas no entanto já era uma parte.
Mesmo essa relativa pobreza parecia que poderia desaparecer em
breve com o advento do euro em 1999, a adopção da moeda comum significava uma maior
integração com os principais parceiros comerciais de Portugal e menores custos
de empréstimos, sendo que ambos os motivos devem ter augurado o tão desejado
boom económico
Não foi assim que as coisas se passaram.
Entre 2000 e 2012, a economia de Portugal cresceu menos per
capita do que os EUA, durante a Grande Depressão ou o Japão durante a sua
década perdida.
O caso de Portugal não se trata de um crash a apagar um
boom, pois simplesmente não houve crescimento, quanto mais boom.
Como se pode constatar no gráfico (em baixo) de Ricardo
Reis, professor da Universidade de Columbia, o PIB real per capita Português estagnou
durante os "anos bons" antes de cair durante “os maus”. Surpreendentemente,
Portugal era mais rico há 12 anos, do que o é agora.
É um thriller policial e económico sem culpados...
Sim, Portugal tem problemas estruturais reais (já lá vamos),
mas também a Espanha e a Grécia os têm e não estagnaram antes da crise.
Reis especula que o imaturo sector financeiro de Portugal é
o culpado: investiu mal o capital estrangeiro que jorrava em sectores de baixa
produtividade, os bens não
Transaccionáveis, como o comércio por grosso e a
retalho. Por outras palavras, desperdiçaram dinheiro em coisas que nunca
tiveram a hipótese de se tornar rentáveis.
Os bancos portugueses, realmente, fizeram um monte de MÁS
apostas ... mas também assim o fizeram os bancos alemães em Portugal.
Outra “coisa” mais devia estar a acontecer.
Outra “coisa” mais devia estar a acontecer.
Parte dessa outra “coisa” é a “cultura” da pequena empresa em
Portugal.
Como Matt Yglesias de Slate observa, a maioria do sul da
Europa, Portugal incluído, sofre de muita corrupção e regulamentação.
As empresas optam por isso por ficar pequenas, porque faz mais
sentido lidar apenas com as pessoas em quem se confia pessoalmente quando não é
possível apelar de forma segura e confiante às autoridades sem sofrer o contra golpe.
As empresas preferem permanecer pequenas, porque as leis tornam difícil a
empresa ou o negócio crescer e continuar com lucros à mesma escala.
Trata-se dum pesadelo paternalista que conduz à baixa produtividade.
Trata-se dum pesadelo paternalista que conduz à baixa produtividade.
E desde 2008 tem piorado. Não só as pequenas e médias empresas
(PME) desempenham um papel descomunal na economia de Portugal, mas também agora
elas próprias estão em apuros e a falir. Por um lado, a austeridade esmagou os
seus clientes; por outro, as PME estão a enfrentar uma crise de crédito e
encontram-se já demasiado endividadas.
Como se pode ver no gráfico abaixo, do Credit Suisse, quanto
mais as economias euro dependem das PME, menos as PME conseguem obter
empréstimos e, Portugal não foge à regra.
Não é um problema particularmente Português, mas é particularmente
mau em Portugal. O gráfico abaixo da Comissão Europeia mostra que, tirando o
Chipre, as PME portuguesas enfrentam os mais altos custos de empréstimo a um
ano na zona euro - e isto apesar da queda nos custos dos empréstimo do governo.
Mas estamos de volta ao início: tudo isto é um mistério
PME com fome de crédito (e ineficientes) ajudam a explicar
por que as coisas estão tão más agora, mas não explica o porquê da economia
estar em tão mau estado há tanto tempo. Ou por que as coisas não eram más antes
da crise em Espanha e na Grécia.
O que está BEM CLARO é que Portugal precisa de ajuda do
resto da Europa para, finalmente, poder voltar ao crescimento. Isso significa aliviar
a austeridade - JP Morgan estima que Portugal percorreu somente 55% do caminho
para o equilíbrio estrutural - e acabar com o atraso na implementação de política
monetária não convencional.
O Banco Central Europeu (BCE) já descartou a possibilidade
de um grande programa de empréstimos a PME, mas não o devia ter feito; sim,
Portugal precisa de se reequilibrar fora das PME, mas uma crise de crédito não
é a maneira de o fazer.
Mais abrangentemente, o BCE deveria estar a fazer muito,
muito mais para reavivar esta economia moribunda da zona euro. Na verdade, não
é por acaso que as exportações Portuguesas para a zona estagnaram, enquanto as
exportações para fora desta zona subiram desde que o BCE aumentou as taxas em
2011
Como se pode ver no gráfico abaixo, do Instituto Nacional de
Estatística de Portugal, apareceu uma grande divergência das exportações na
zona euro e o crescimento das exportações na zona não euro, pela primeira vez
desde 2000.
Claro que , Portugal ainda tem de corrigir os seus problemas
estruturais.
entre outras coisas, significa tornar mais fácil iniciar e
expandir um negócio; tornar mais fácil a
execução dos contratos. Afinal de contas, a estagnação de Portugal entre 2000 e
2008 mostra que a procura não é suficiente em face desses problemas profundos.
É por isso que a Europa tem de parar de insistir na punição
como o caminho para a prosperidade.
Se não o fizerem, a ideia de sair do euro pode não ser exactamente
o tema de um livro popular Português.
Pode vir a ser a plataforma de um partido popular Português.
UP DATE
14 Out 14
14 Out 14
depois do troika ter saído de Portugal
e o plano ter sido um "sucesso" exemplar.
Fontes:
http://www.theatlantic.com/business/archive/2013/06/the-mystery-of-why-portugal-is-so-doomed/276371/