terça-feira, 2 de setembro de 2014

Perceber o que está a acontecer na Ucrânia em 15 minutos

Muitas vezes (demasiadas), nós os Ocidentais, descuramos o que pensam e sentem os habitantes mais a leste deste nosso planeta.

Para nós é mais frequente, e natural também, ouvirmos os discursos e as razões do presidente e dos senadores americanos.

Mas essa é somente uma metade da realidade. Realidade essa que, infelizmente, tem levado tantas vezes a conflitos graves, com consequências dramáticas para dezenas ou mesmo centenas de milhões de habitantes desta magnifica nave azul.


Traduzi esta entrevista de Sergei Glaziev. Conselheiro de Putin onde ele nos explica como as mudanças estruturais da economia global, e um momento importante de viragem para a Ásia, parece ter precipitado...


os estrategas das políticas dos EUA numa tentativa desesperada para manter o seu controlo de poder, a instigar uma guerra na Europa. 

Quer o leitor concorde ou não com a sua análise, terá que admitir que Glaziev é brilhante, erudito e que defende com paixão as suas convicções.


Só por isso o vídeo já vale bem a pena.



1 Mudanças estruturais na economia global são frequentemente precedidas de grandes crises e guerras

O mundo contemporâneo está a passar pela sobreposição duma série de crises cíclicas. A mais grave delas é uma crise tecnológica que está associada a alterações nos comprimentos de onda do desenvolvimento económico.

Estamos a viver um período em que a economia está a mudar a sua estrutura, como todos (mais ou menos) BEM sentimos.

A estrutura económica que tem sido o motor de crescimento económico nos últimos 30 anos, esgotou-se.

É preciso fazer uma transição para um novo sistema de tecnologias.

Este tipo de transição, infelizmente, tem acontecido sempre por meio da guerra.

Foi assim na década de 30, quando a Grande Depressão deu lugar a uma corrida ao armamento que levou depois à Segunda Guerra Mundial. 

1 de Setembro de 1939

Foi assim durante a Guerra-fria, quando uma corrida ao armamento no espaço deu origem às complexas tecnologias de informação e comunicação, que se tornaram a base de uma estrutura tecnológica que tem vindo a impulsionar a economia mundial durante os últimos 30 anos.

Hoje estamos diante de uma crise semelhante. O mundo está a mudar para um novo sistema tecnológico.

2. Putin quer alargar Zona de Livre Comércio para facilitar a transição para a Nova Economia Global

O novo sistema é de natureza humanitária e, assim, poderia evitar uma guerra, pois os principais operadores de crescimento neste segmento são tecnologias humanitárias.

Estas incluem cuidados de saúde e farmacêuticas que são baseados na biotecnologia.

Incluem, também, tecnologias de comunicação, baseadas na nano tecnologia, que regista, hoje, grandes avanços.

Envolvem, ainda, tecnologias cognitivas que definem um novo somatório do conhecimento humano.

Se, tal como o Presidente Putin tem persistentemente proclamado, a EU e a Rússia forem capazes de acordar um programa comum para o desenvolvimento, uma zona de desenvolvimento geral, com um regime comercial preferencial de Lisboa a Vladivostok,


então podemos desenvolver um número suficiente de projectos inovadores, da saúde ao evitar as ameaças espaciais, que alimentarão o nosso potencial científico e técnico e criarão uma procura constante por parte dos Estados, que dariam um impulso suficiente para o novo sistema tecnológico.


3 Washington equaciona a ameaça da guerra na Europa como a melhor forma de preservar a sua hegemonia

Contudo, a América tomou o seu caminho habitual.

Para manter o seu domínio no mundo ameaçam provocar uma nova guerra na Europa.

Uma guerra é sempre uma coisa boa para a América.

Eles ainda chamam a Segunda Guerra Mundial, que matou 50 milhões de pessoas na Europa e na Rússia, uma boa guerra.

Foi bom para a América porque os EUA emergiram desta guerra como potência líder do mundo.

A Guerra-fria, que terminou com o colapso da União Soviética também foi
boa para eles.

Novamente os EUA querem manter a sua liderança em detrimento da Europa.

Liderança essa que está a ser posta em causa por uma China em rápida ascensão.

O mundo de hoje está a entrar em nova mudança de ciclo, desta vez o ciclo político.

Este ciclo dura há séculos e está associado com as instituições de regulamentação da economia global.

Estamos agora a assistir ao fim do ciclo Americano de acumulação de capital para um novo ciclo Asiático. Isto representa outra crise que ameaça a hegemonia Americana. Para manterem a sua liderança face à competição com uma China emergente e outros países Asiáticos, os Americanos estão a começar uma nova guerra na Europa. Pretendem enfraquecer a Europa, dividir a Rússia e subjugar o continente Euro-asiático por inteiro.

Isto em detrimento do desenvolvimento duma zona desde Lisboa até Vladivostok, que é proposto pelo Presidente Putin, os US pretende começar uma Guerra caótica neste território, envolver toda a Europa numa Guerra que desvalorizará o capital europeu, limparem a sua (dos US) dívida pública, sob o peso da qual os US já estão a sucumbir. Limpar o que devem à Europa e à Russia, subjugar este espaço económico e estabelecer o controlo sobre os recursos deste gigantesco continente euro-asiático.


Eles acreditam que é a única maneira que têm de manter a sua hegemonia e vencer a China.

Infelizmente este tipo de estratégia geopolítica que vemos a América a desenrolar é exactamente do tipo do século XIX, Eles estão a pensar em termos de lutas geopolíticas ao estilo do Império Britânico: Dividir para conquistar Lançar Nações umas contra as outras, envolvê-las em conflitos e começar uma guerra mundial. Unfortunately the American geopolitics that we see playing out is exactly like the 19th century. They think in terms of the geopolitical struggles of the British Empire: divide and conquer. Pit nations against others, embroil them in conflict, and start a world war. Os Americanos, infelizmente, prosseguem com antiga politica Britânica para resolverem os seus problemas.

A Rússia foi escolhida como vitima e a Ucrânia como a arma de eleição e o seu povo como carne para canhão, numa nova guerra.

Em primeiro lugar, os americanos elegeram como alvo a Ucrânia pretendendo separá-la da Rússia. Essa táctica vem já desde Bismarck. Esta tradição anti-russa para enredar a Rússia no conflito, a fim de poder assumir todo o espaço euro-asiático. A estratégia foi utilizada em primeiro lugar por Bismark, depois pelos britânicos, e, finalmente, pelo líder cientista político americano Zbigniew Brzezinski, que disse em várias ocasiões que a Rússia não pode ser uma super potência sem a Ucrânia e que se envolvesse a Rússia em guerra com a Ucrânia isso iria beneficiar a América e o Ocidente.


Nos últimos 20 anos os americanos foram incitando o Nazismo na Ucrânia contra a Rússia.

Como é bem sabido eles acolheram os simpatizantes de Bandera no fim da Segunda Guerra Mundial. Dezenas de milhares de nazis ucranianos foram levados para a América e foram cuidadosamente cultivando e alimentando a ideologia durante todo o período do pós-guerra. Esta onda de imigrantes refluiu para a Ucrânia, após o colapso da União Soviética.


A ideia de uma Parceria Oriental foi usado como isco. Ela foi expressa pela primeira vez pelos Polacos, e depois pelos Americanos.

A essência da Parceria Oriental, da qual a Geórgia se tornou na primeira vítima. Agora é a vez da Ucrânia e logo se seguirá a Moldávia a cortar os laços com a Rússia. Como é sabido estamos a construir a União Aduaneira, que é também um espaço económico comum com a Bielo-Rússia o Kazaquistão, e que em breve será acompanhada pelo Quirguistão e a Arménia.

A Ucrânia tem sempre sido o nosso velho parceiro. A Ucrânia ainda está numa fase de ratificação do acordo com a Rússia, que ninguém na Ucrânia cancelou ainda. A Ucrânia é importante para nós como parte do nosso espaço económico e temos laços de cooperação já com séculos de tradição.

O nosso complexo científico e industrial foi criado como um todo, por isso, a participação da Ucrânia na integração europeia é bastante natural e vital.

A Parceria Oriental foi criado para impedir a participação da Ucrânia no projecto de integração euro-asiática.

O propósito da Parceria Oriental é criar uma associação com a União Europeia. O que é a associação que foi assinado por Poroshenko com os líderes europeus? É a transformação da Ucrânia numa colónia. Ao assinar o acordo com a associação, a Ucrânia perde a sua soberania. Ela transfere o controle do seu comércio, os costumes, a regulação técnica e financeira, e os contratos públicos para Bruxelas.

4 A junta nazi Ucraniana é um instrumento da política dos EUA

A Ucrânia deixou de ser um Estado soberano tanto na sua economia como na política. Isto está claramente expresso no contrato de adesão: que a Ucrânia é um sócio minoritário na União Europeia.

A Ucrânia deve seguir uma política de defesa comum e da política externa da UE. A Ucrânia é obrigada a participar na resolução de conflitos regionais, sob a liderança da União Europeia. Assim Poroshenko está a fazer da Ucrânia uma colónia da UE e a empurrar a Ucrânia para uma guerra contra a Rússia tal como carne de canhão, com a intenção de inflamar uma guerra na Europa.

O objectivo do acordo de associação é permitir que os países europeus possam utilizar a Ucrânia na resolução de conflitos regionais. O que está a acontecer no Donbass é um conflito regional armado.

O objectivo da política americana é o de criar o maior número de vítimas possível. A junta nazi ucraniana é um instrumento desta política.

Eles estão a cometer atrocidades e crimes estúpidos bombardeando cidades matando civis, mulheres e crianças, e a forçá-los a sair das suas casas, com o fim de provocar a Rússia e depois envolver toda a Europa numa guerra. Esta é a missão da Poroshenko.

É por isso que Poroshenko está a rejeitar quaisquer negociações de paz e a bloquear todos os tratados de paz. Ele interpreta qualquer declaração de Washington sobre a escalada do conflito como uma ordem para escalar nele. Todas as negociações de paz ocorridas a nível internacional trouxeram uma nova onda de violência.

Temos que entender que estamos a lidar com um estado nazi, que apostou numa guerra com a Rússia e que até já decretou recrutamento geral.

Toda a população masculina entre os 18 e os 55 anos foi colocada ao serviço das armas. Aqueles que se recusam arriscam15 anos de prisão. Este poder criminoso nazi transforma em criminosos toda a população ucraniana.


5 Washington está a mergulhar a Europa numa guerra para defender os seus próprios interesses 

Calculamos que a economia europeia vai perder cerca de € 1000.000.000 a custa das sanções que lhes são impostas pelos americanos. Esta é uma soma enorme. Os europeus já estão a ter perdas. Já existe uma queda nas vendas para a Rússia. A Alemanha está a perder cerca de 200 biliões de euros.

Os nossos amigos mais raivosos dos Estados Bálticos sofrerão as piores perdas. A perda para da Estónia será mais do que o seu PIB. A perda para da Letónia será de cerca de metade do seu PIB.

Mas isso não os impede.

Os políticos europeus estão a actuar em conjunto com os norte-americanos, sem questionar o que estão a fazer.

Eles estão a prejudicar-se, provocando o nazismo e a guerra. Eu já disse que a Rússia e a Ucrânia são as vítimas desta guerra que está a ser fomentada pelos americanos.

Mas a Europa também é uma vítima, porque a guerra visa atingir o bem-estar europeu com o fim de desestabilizar a Europa.

Os americanos esperam que o capital e a fuga de cérebros europeus para a América continue a ocorrer. É por isso que eles estão a lançar toda a Europa em chamas.

É muito estranho que os líderes europeus estejam a jogar o seu jogo.

6 A Alemanha ainda é um território ocupado
Não devemos apenas esperar que os líderes europeus (irão desenvolver uma política independente) devemos trabalhar com os líderes europeus duma nova geração que sejam livres do diktat americano.

O facto é que uma elite política anti-soviética se formou durante os anos do pós-guerra fria na Europa. De seguida, eles rapidamente se tornaram anti Rússia.

Apesar dos laços económicos se terem expandido imenso e dos enormes e mútuos interesses económicos entre a Europa e a Rússia, a russo fobia é baseada num anti sovietismo que ainda permanece na mente de muitos políticos europeus. Vai ser necessária (e demorar) uma nova geração de políticos europeus pragmáticos para entenderem quais os seus próprios interesses nacionais.

O que vemos hoje são os políticos a agir contra os próprios interesses nacionais. Isto é principalmente devido ao facto da Alemanha, que é o motor do crescimento europeu, ainda ser um país ocupado. As tropas americanas ainda estão na Alemanha, e cada chanceler alemão ainda presta um juramento de fidelidade aos americanos e se compromete a seguir todos os passos da sua política. Esta geração de políticos europeus não foi capaz de se libertar do jugo da ocupação americana.

7 O nazismo está em ascensão
Embora a União Soviética já não exista, eles doentiamente, continuam a apoiar e a seguir Washington, na expansão da NATO e a capturar novos territórios para seu controle. Apesar do facto de eles serem já "alérgicos" aos novos membros da EU da Europa de Leste.

A União Europeia já está a rebentar pelas costuras, mas isso não os impede de continuar a sua expansão agressiva no território pós soviético.


 A nova geração, espero, vai ser mais pragmática. As últimas eleições para o Parlamento Europeu, demonstrou que nem todos se deixam enganar por esta propaganda pró-americana e anti Rússia e pelo fluxo constante de mentiras que estão a cair sobre os povos europeus.

Partidos europeus tradicionais perderam nas últimas eleições no parlamento europeu. Quanto mais proclamamos a verdade, maior será a reacção, porque o que está a acontecer na Ucrânia é o renascer do nazismo.

A Europa relembra os sinais do renascimento deste fascismo com as lições da Segunda Guerra Mundial. Precisamos despertar essa memória histórica para que eles vejam que os nazis ucranianos, estão agora no poder em Kiev, os seguidores de Bandera, Shukhevych e outros colaboradores nazis. 

A ideologia das actuais autoridades ucranianas, tem as suas raízes na ideologia dos cúmplices de Hitler que dispararam sobre judeus em Babi Yar, queimaram ucranianos e bielorussos e aniquilaram todos, sem distinção étnica. Este nazismo está a crescer hoje. Os europeus devem reconhecer a sua própria morte, neste terrível confronto.

Espero que, se continuarmos a espalhar a verdade, nós seremos capazes de salvar a Europa da ameaça de guerra.

Nota: Um agradecimento especial a Vineyard of the Saker por ter postado esta incrível entrevista.

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